Muito bom Diego!!!!
É com muita alegria que apresentamos hoje uma entrevista com um pesquisador da genealogia basca. Trata-se de Diego Moreira, que nasceu e vive no Rio de Janeiro, tem 31 anos, casado com a Lucimar e pai do Daniel e da Mariana, de 4 e 2 anos de idade. Diego é professor de Geografia na rede privada de ensino no Rio de Janeiro e em Niterói e atua com alunos do ensino médio e preparação para o vestibular.
MH- Diego, você está fazendo um trabalho fantástico de levantamento de imigrantes bascos radicados no Brasil. Poderia me contar um pouco mais sobre este projeto?
DM- Decidi pesquisar a presença basca no Brasil tomando como ponto de partida a minha própria história familiar. Sou bisneto de uma imigrante basca, Pura Larrabeiti Goiry, nascida em Derio, na província de Vizcaya, na Espanha.
Iniciei o trabalho em casa, levantando informações com familiares próximos. Depois descobri ferramentas na internet que dão acesso a informações relevantes sobre os nascidos na região, como batismos, casamentos e obituários. Com esses dados trilhei caminhos que me levaram a identificar mais de 150 ancestrais, nascidos do século XIX ao XVI. Incluindo cinco gerações completas (até os trisavós) e 88% dos ancestrais da sexta geração (tetra-avós) até o momento. Os dados incluem também indivíduos da sétima até a décima geração de ancestrais de minha bisavó.
O projeto em si foi pensado para ser realizado em parceria com as famílias de origem basca. O objetivo é pesquisar a ancestralidade e a descendência de imigrantes bascos radicados no Brasil. O elemento central da pesquisa é o imigrante, que representa o elo entre os mundos. As famílias auxiliam com informações sobre a descendência e eu pesquiso a ancestralidade.
O resultado desse trabalho abordando vários imigrantes será, sem dúvida, um valioso estudo da imigração basca para o Brasil e da genealogia basco-brasileira. Abre-se a possibilidade para estudar a contribuição dos bascos para o caráter multiétnico do povo brasileiro, sua identidade e sua representação coletiva. Pretendemos incluir o georreferenciamento das informações, o que nos permitirá elaborar um mapa sobre a imigração basca para o Brasil, tanto em relação à origem dos imigrantes, quanto em relação à dispersão de seus descendentes pelo Brasil e pelo Mundo. Quanto mais famílias aderirem ao projeto, melhor e mais completo ele se torna.
MH- Poderia falar mais sobre a imigração basca no Brasil? Que outros países têm uma grande colônia basca?
DM- Os bascos formam um povo que se concentra fundamentalmente no “país basco” espanhol, que inclui as províncias de Vizcaya, Alava e Guipúzcoa, além da Navarra. Também estão presentes na França, em parte dos Pirineus Atlânticos, nas províncias da Baixa Navarra, Lapurdi e Zuberoa. Portanto, os imigrantes bascos vêm da Espanha e da França.
Sua presença é considerável no Brasil, especialmente no sul do país. Contudo, a presença de basco-descendentes é bastante consistente na Argentina, no Uruguai, no Chile, em Cuba e ocorre em praticamente todos os países de colonização espanhola. O espírito aventureiro e o caráter viajante dos bascos ajudam a explicar sua diáspora.
MH- O que despertou o seu interesse por este tema?
DM- Certamente meu interesse partiu da questão pessoal, de minha ancestralidade basca. Mas também me estimulou o fato de termos tão poucas publicações específicas sobre o tema e principalmente sobre a cultura basca.
MH- Tem alguma cidade centro da colônia basca no Brasil ou os seus descendentes estão espalhados pelo país afora?
DM- Creio que não temos uma cidade específica, mas o estado do Rio Grande do Sul parece ser o grande foco da presença de bascos no Brasil. Há basco-descendentes espalhados por todo o país, contudo, parece que é lá na terra dos gaúchos, especialmente nas cidades da faixa de fronteira, que eles estão radicados, em núcleos como Santana do Livramento, Pelotas, Bagé ou mesmo em Porto Alegre.
MH- Quais são os desafios e objetivos dos bascos no Brasil? Que tipos de eventos realizam?
DM- Creio que eles visam integrar a comunidade basco-brasileira promovendo a cultura, a história, as heranças tradicionais e a identidade basca no Brasil, tendo como desafio a motivação do maior número possível de membros dessa comunidade para a mobilização nesse sentido.
A movimentação que tenho percebido para isso se concentra nos grupos que atuam na esfera da Euskal Etxea, a Casa Basca do Rio Grande do Sul, a qual eu integro, hoje, mesmo à distância, vivendo no Rio de Janeiro. São realizados eventos culinários, palestras sobre cultura basca, encontros familiares, entre outros. O Centro Basco São Paulo, na metrópole paulista, também atua nesse campo. Realizou recentemente a Festa Santo Inácio Loyola, em homenagem ao dia desse santo, um basco fundador da Companhia de Jesus.
MH- Poderia falar um pouco mais sobre o Departamento de Genealogia que está sendo criado em parceria com a Casa Basca do RS?
DM- Descobri a Euskal Etxea do Rio Grande do Sul através da internet, como quase tudo o que faço nesse trabalho até aqui. Comecei a me integrar a páginas sobre os bascos no Facebook e adquiri o único livro sobre cultura basca que encontrei à venda nos sites de todas as grandes livrarias. Trata-se de “Alma Basca – tudo que tem nome existe”, de Ana Luiza Panyagua Etchalus, A autora é justamente a presidente da Euskal Etxea do Rio Grande do Sul. É uma “caçadora” de bascos brasileiros. E me encontrou nas redes sociais, onde nos articulamos para a criação desse Departamento de Genealogia para a Euskal Etxea.
O objetivo inicial do departamento é justamente ser um núcleo para a promoção desse projeto de pesquisa que elaborei e pretendo desenvolver em parceria com as famílias integradas à instituição, bem como com as demais famílias de origem basca interessadas no trabalho. No momento estamos nos organizando para promover um seminário sobre genealogia e história bascas a ser realizado no Rio Grande do Sul no primeiro semestre do ano que vem, provavelmente em abril ou maio. Certamente os primeiros resultados motivarão muitas pessoas e ampliarão a demanda, o que deve fazer o departamento crescer, ganhando novos e cada vez mais ambiciosos objetivos.
MH- Como começou o seu interesse por genealogia?
DM- Sempre gostei de História. Sou professor de Geografia. E sempre fui muito ligado afetivamente aos meus familiares. Cresci morando com meus pais e no mesmo edifício que meus avós paternos e maternos. A sensação de que o amor que recebia deles era um espelho do amor que eles receberam de seus avós na infância, e assim sucessivamente, me levou a buscar as minhas raízes, as raízes desse amor. E encontrei na genealogia um caminho para essa busca. Se a morte física é inevitável, sobrevivemos em nossos descendentes, não só no sangue e nos genes, mas principalmente quando somos lembrados por eles. A morte definitiva é o esquecimento. Creio nisso e isso me motiva a seguir pesquisando, para que os meus permaneçam vivos.
MH- Conte um pouco sobre a sua história familiar.
DM- Minha família surge a partir de pessoas radicadas fundamentalmente no espaço da região sudeste do Brasil. Os pais são nascidos no Rio de Janeiro. Assim como o avô paterno, filho de pai português e mãe basca. A avó paterna vem de portugueses radicados no interior do estado do Rio de Janeiro, miscigenados com indígenas locais, da região de Saquarema. Já os avós maternos são de Minas Gerais (ele) e do Espírito Santo (ela). Meu bisavô português não tem pais identificados. Nasceu na freguesia de Cete, no concelho de Paredes, e foi abandonado numa daquelas “rodas” de convento. De minha avó materna, capixaba, conheço apenas os pais. Representa o ramo afro-brasileiro de minha família. Pretendo trilhar essa rota também.
De meu avô paterno, da família Dutra de Moraes pelo pai e da família Rezende pela mãe, ambas oriundas da zona da mata mineira, tenho informações melhores, que me levam a alguns de meus penta-avós. Nesse ramo creio que minha pesquisa me levará a Balthazar de Moraes d’Antas, português que chegou ao Brasil por volta de 1580 e que tem genealogia descrita por Silva Leme no sétimo livro da “Genealogia Paulistana”. Creio também que chegarei aos Rezende, vindos da terceira das “três Ilhoas”, com genealogia descrita por Artur Rezende e José Guimarães. São caminhos que preciso enfrentar conciliando a vida de pai, marido, professor e pesquisador, mas que podem render resultados muito bons.
MH- Você trabalha em parceria com outros genealogistas ou parentes? Qual é o tamanho da sua árvore genealógica? Quem é o parente mais antigo?
DM- Sou um dos curadores do Geni, site de genealogia da família MyHeritage. A melhor parceria que desenvolvo se dá com as outras três curadoras brasileiras do Geni, Lúcia Pilla, Carla Assenheimer e Nívea Nunes Dias. Aprendi e sigo aprendendo muito com elas, e explorando as ferramentas do site, que é colaborativo. Entre meus parentes, muitos gostam do trabalho e me estimulam. Alguns já me forneceram informações valiosas, como minha tia-avó Maria Larrabeiti, filha de minha bisavó basca, com quem obtive as informações que foram meu ponto de partida nessa pesquisa com os ancestrais bascos. Uma das primas de minha sogra, a professora Henriette Cruz Sousa e Mello, é também uma das que mais me estimulam e colaboram comigo. Ela tem um trabalho excepcional realizado no MyHeritage, especialmente no que se refere à família delas. Eu também sou usuário do MyHeritage.
Tenho, hoje, aproximadamente 200 de meus ancestrais identificados e documentados. Quanto ao parente mais antigo, dos que já identifiquei com provas documentais, creio ser Pedro Goya de Achuri, que consta como pai de Joan Goya de Achuri Elgueçabal, cuja data de nascimento é 14 de Janeiro de 1588. Creio que Pedro nasceu por volta de 1550. Contudo, se conseguir unir meus ancestrais a Balthazar de Moraes d’Antas, a genealogia cresce muito, ligando-me a figuras como Afonso Henriques, “O Conquistador” de Portugal. E só este rei português tem milhares de ancestrais conhecidos. Preciso traçar esse caminho. Tenho notícias de que o pesquisador Douglas Fasolato, historiador e atual presidente do Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora, já possui esses dados. Mas ele, justificadamente, não os compartilha, pois tem um projeto para publicá-los. Resta-me aguardar e torcer para que ele publique o quanto antes esse estudo. Já me coloquei à disposição para oferecer o que tenho e contribuir com a pesquisa.
MH- Você tem contato com o país dos seus antepassados?
DM- Nunca estive em Euskal Herria, o país basco. Certamente tenho a intenção de visitar aquela terra. Tenho conhecimento de parentes próximos vivendo lá. Minha bisavó foi a única de seus irmãos que deixou o país basco. Todos os descendentes deles vivem por lá, em diversas cidades ou mesmo em Madri, como é o caso da prima Irantzu, a única com quem travo contato mais frequente pela rede social. Estou certo de que será uma experiência muito comovente para mim.
MH- Teve algum evento durante a sua pesquisa que tenha sido especialmente interessante ou digno de nota? Algum mistério que conseguiu desvendar através da genealogia?
DM-Descobri que minha família basca tem indivíduos que se envolveram com a luta nacionalista e foram perseguidos politicamente durante a ditadura de Franco. No final dos anos 1960, minha tia-avó esteve no país basco com sua filha, também chamada Maria Larrabeiti, encontrando nossos parentes. Um dos primos dela estava foragido naquela época e só pôde ser conhecido muitos anos depois, em 2006, quando Maria tornou a visitá-los. Maria vive na Austrália, é casada com Fernando Ogayar, argentino que também tem origem basca. Eles tem duas filhas.
MH- Que dicas você teria para alguém tentando encontrar seus antepassados bascos?
DM- Até o momento, minhas melhores fontes de informação têm sido os sites dos arquivos históricos e eclesiásticos da região. É o melhor caminho pra começar essa investigação. Eles são muito ricos e possuem milhões de registros de batismos, casamentos e obituários disponíveis para consulta. E caso o usuário deseje, eles remetem cópias dos documentos encontrados. Os SmartMatches que ligam perfis presentes no MyHeritage ao Geni também são uma ferramenta poderosa que me permitiu avançar em vários ramos. O fato dos sites serem colaborativos ajuda muito.
MH- E que conselho você daria aos nossos usuários que estão começando agora a pesquisar suas famílias?
DM- Reproduzo aquilo que digo sempre a todos que me perguntam sobre essa atividade. Comecem em casa. Busquem os documentos dos pais e avós. Certidões de nascimento, casamento, óbitos e batismos podem conter informações valiosas. Conversem com familiares, perguntem sobre suas histórias, sobre suas vidas. A genealogia fica mais rica quando acompanhada de observações ou notas biográficas. Cartórios, templos, arquivos públicos são fontes que podem ter enorme serventia. E deixo uma palavra de estímulo para que não desistam. Que insistam. Mesmo que leve muito tempo. Se o apreço pela família for cultivado entre os seus, muitas pessoas lhe agradecerão por não ter desistido.
Muito obrigada Diego pela entrevista! E agora gostaria de saber de vocês: vocês têm antepassados bascos na árvore genealógica de vocês? Conte-nos nos comentários abaixo!
Elimar de Castro Insaurriaga
4 de novembro de 2013
Gostaria de deixar os meus cumprimentos ao Prof. Diego Moreira o qual mantenho contato e que muito tem me ajudado na pesquisa BASCA. Excelente entrevista muito esclarecedora e ensiasta para nós pesquisadores dos nossos antepassados. Parabéns a voces da Myheritage que também faço uso para a minha árvore genealógica.