Porque descobrir o passado da minha família, alarga o meu horizonte futuro.


Acaba de ser publicado um novo livro sobre genealogia, que pretende ser uma ajuda preciosa para todos os interessados em fazer pesquisa da história familiar. Francisco Queiroz e Cristina Moscatel escreveram o livro “Descubra as suas origens”, pois sabem como “recuar no tempo parece ser impossível, porque a informação se perdeu ou tornou-se incerta na memória” dos parentes mais velhos da nossa família. Eles também sabem como muitos desistem de começar pois os pontos de partida às vezes são complicados, como, por exemplo, quando nos deparamos com um documento que parece indecifrável.
E temos que concordar quando os autores dizem que a tarefa não é impossível, a história familiar está simplesmente escondida. O manual “Descubra as suas origens” pretende dar as pistas necessárias para desvendarmos este “labirinto” chamado genealogia, dando dicas inclusive de como usar o site do MyHeritage para ajudá-los nesta empreitada.
MyHeritage: Qual foi a motivação para a escrita do livro?
Francisco Queiroz – A minha motivação principal foi o perceber que poderia ajudar muita gente, visto que não existia no mercado livreiro nenhuma obra semelhante. Ao longo dos anos, em fóruns e grupos na Internet, várias perguntas repetiam-se, por vezes até à exaustão. Muitas delas já haviam sido bem respondidas, mas quem chegava de novo a esses fóruns não encontrava as
respostas facilmente. A dispersão era, e é, notória. Era preciso um livro que respondesse a todas as principais dúvidas e pudesse servir também de manual, de ajuda ao longo de todo o processo de pesquisa genealógica. Este livro é mesmo para ser anotado, sublinhado; para se ter junto ao computador sempre que fazemos pesquisa genealógica, sobretudo quando ainda não temos grande experiência de pesquisa.
Cristina Moscatel – A minha participação neste livro começou com a pesquisa intensiva que era necessário realizar ao nível do que já existia em termos bibliográficos, das dúvidas e questões colocadas e respostas dadas (sobretudo “online”) sobre como e onde realizar as pesquisas necessárias à construção de uma genealogia. Essa pesquisa abarcou, pois, tópicos colocados em alguns fóruns ao longo de quase 15 anos. Dispersas, reiteradas, corretas e menos corretas; questões e respostas foram
compiladas e depuradas, dando corpo ao que era necessário estruturar num só local: o futuro manual. A minha participação prendeu-se, também, com a ligação entre pesquisa/pesquisadores e arquivos/documentos, ligação que tentei, ao máximo, fazer corresponder e divulgar, de forma a facilitar a identificação das fontes e o acesso às mesmas. Tentei trazer os arquivos portugueses para o manual e penso que ficaram bem representados. Articular tudo isto com a experiência de pesquisa do Francisco e com a minha experiência de trabalho enquanto arquivista gerou uma obra prática, correta, acessível e útil. Era esse o nosso objetivo.
MyHeritage: Para quem o livro é indicado? Quais são os principais temas abordados?
FQ – Concebido como um manual de Genealogia e História da Família, este livro é dirigido a todos quantos têm raízes em Portugal e querem conhecer mais sobre os seus antepassados. Sendo preferencialmente destinada a quem pretenda traçar o percurso dos seus ancestrais, esta obra pode ser igualmente útil a genealogistas profissionais, assim como a investigadores
na área da História e em áreas afins. Na verdade, quem já tem experiência de pesquisa genealógica poderá encontrar no livro informações que confirmem, actualizem ou coloquem em questão os seus conhecimentos.
Pessoalmente, estou convencido que mesmo o mais experimentado dos genealogistas irá aprender algumas coisas novas com este livro. Nós, autores, procurámos atingir um equilíbrio entre a linguagem simples e esquematizada própria dos manuais e o rigor e problematização que caracterizam os textos científicos. Talvez este tenha sido o nosso maior desafio. De qualquer modo, é sobretudo para quem está a iniciar a pesquisa ou para quem a iniciou há pouco tempo, que o livro pode ser uma ajuda
preciosa e até mesmo imprescindível. De facto, antes do livro ter sido escrito, foi feita uma prospecção na Internet, de modo a se saber quais as principais dúvidas que eram expressas por quem fazia pesquisa genealógica e se as mesmas eram correctamente respondidas, ou não. O livro não contém aquilo que os autores acham que deve conter, mas sim aquilo que os
leitores potencialmente precisam que contenha. É feito a pensar em quem faz pesquisa genealógica.
O livro divide-se em três abordagens: como e onde pesquisar; como interpretar os dados pesquisados; e como organizá-los, não só para a construção da árvore genealógica, mas também para a elaboração da história da família. Na verdade, há pessoas que iniciam com um objectivo de pesquisa, mas depois alargam a sua ambição. O livro foi concebido para dar respostas a ambas as situações.
CM – A preocupação em expor, explicar e orientar a pesquisa em relação às fontes existentes teve o intuito de fazer com que empreender este tipo de trabalho/pesquisa seja possível a todos. A Genealogia deixou de ser uma prática ligada às elites e é algo que, atualmente, interessa a todos. A todos, sem distinção. Os temas do livro, a forma como foram expostos e o esclarecimento do conteúdo das fontes permitem que essa pesquisa esteja e seja acessível a todos.
MyHeritage: Conte um pouquinho sobre as famílias de vocês. Quais foram as maiores surpresas nas pesquisas que fizeram?
FQ – A história da minha família está ainda em construção. O provérbio “em casa de ferreiro, espeto de pau” aplica-se aqui perfeitamente: como sou um profissional da área da investigação, a pesquisa da minha própria família fica relegada para os tempos livres, que são raros e curtos, e nos quais há outras coisas que também gosto de fazer. Contudo, já avancei bastante
em alguns ramos. Um dia, certamente, irei colocar tudo isso num livro. Entretanto, algumas histórias curiosas já as revelei na obra “Descubra as suas origens”. Posso acrescentar que, na pesquisa já feita sobre a minha família, as surpresas foram muitas. Uma delas foi o facto dos antepassados cujo nome já encontrei, quer do lado paterno, quer do lado materno, serem quase todos de uma região confinada. Pelo lado paterno, por exemplo, muitos dos meus antepassados eram naturais de um só concelho. O facto de quase todos terem sido lavradores com terras retirava-lhes mobilidade: para quê ir casar longe se era na própria freguesia ou em freguesia vizinha que havia um rapaz ou rapariga solteiro(a) cujos pais também tinham terras e assim ficaria garantido o sustento dos futuros filhos?
Também por esta razão, encontrei pouquíssimos antepassados cujos filhos emigraram. Porém, há casos de pessoas em que sucede precisamente o inverso: têm vários antepassados que emigraram. Por isso, o manual que agora publicamos procura contemplar vários tipos de famílias, de várias regiões, com as suas particularidades.
Um outro aspecto interessante da pesquisa que fiz sobre a história da minha família, até agora, foi conseguir comprovar histórias contadas pela minha avó, que não se recordava já dos nomes e locais, por ter ouvido essas histórias quando era muito pequena. Todas as histórias tinham fundamento, mas a realidade era um pouco diferente daquilo que ela contava. A importância da tradição oral familiar e os cuidados a ter na sua interpretação são assuntos também abordados no livro “Descubra as suas
origens”.
CM – A minha pesquisa genealógica está em construção. Alguns exemplos foram usados no próprio manual agora publicado, tal como sucedeu com o Francisco. O apelido Moscatel está associado sempre à mesma família e, quando aparece em outras ilhas açoreanas, sabemos que são ramos de uma só família. Também já consegui apurar que o apelido apenas aparece no século
XIX, mas ainda não deslindei o porquê do seu aparecimento – aquando da ligação, por matrimónio – com uma certa zona da ilha de S. Miguel (onde ainda hoje os membros da família são em maior número). Um dia, quem sabe, quando tiver mais algum tempo livre, poderei terminar essa pesquisa.
MyHeritage: Quais são os maiores desafios para a pesquisa genealógica em Portugal? Como ser bem sucedido na pesquisa?
FQ – Eu e a Cristina Moscatel temos perspectivas algo diferentes, pois ela vê os arquivos também pela perspectiva do arquivista. Ora, eu sou somente um utilizador de arquivos, pois nunca geri nenhum. Assim, penso que um dos maiores desafios é fazer ver a todos os que pesquisam que há muito mais documentos interessantes para a Genealogia do que baptismos, casamentos e
óbitos. Aliás, em muitos casos, sem os assentos paroquiais é possível também fazer genealogias rigorosas. Por outro lado, só com os assentos paroquiais, não é possível escrever uma história da família com texto encadeado e apelativo. E o que é realmente interessante é pegarmos nos nomes e nas datas, interpretando-os. Para que esta interpretação seja bem feita, convém deixar a tarefa aos profissionais da História. Porém, o manual dá bastantes pistas para uma interpretação sumária dos dados mais elevantes. Ora, um dos grandes desafios é precisamente que cada leitor do livro amplie os seus horizontes, se sinta mais confiante da pesquisa que pode fazer, mas ao mesmo tempo ganhe consciência das suas limitações, para que o seu trabalho seja honesto e verdadeiramente útil aos seus parentes e aos que, na sua família, ainda nem sequer nasceram. Por outras palavras, o desafio é termos cada vez mais gente a fazer pesquisa genealógica, consciente de até onde pode ir. Outro desafio relativamente à pesquisa genealógica em Portugal é fazer com que a cada vez maior quantidade de documentos digitalizados e disponíveis na Internet seja acompanhada de qualidade nessa digitalização, e que se redefinam prioridades naqueles documentos que podem ter maior interesse genealógico. Contudo, é preciso lembrarmo-nos que os arquivos não são usados apenas por quem quer fazer pesquisa genealógica.
Quanto aos segredos para sermos bem sucedidos na pesquisa, há dois que se destacam: a persistência, e o saber contornar os obstáculos. Há muitos caminhos possíveis para se chegar ao mesmo local. O livro “Descubra as suas origens” dá exemplos vários de como se conseguir obter os dados que podem faltar em assentos paroquiais.
CM – Por “defeito” de profissão (sou arquivista) a Genealogia é algo diário no meu trabalho. Os arquivos regionais (ou distritais) não realizam estudos genealógicos, nem fazem esse trabalho para particulares. No entanto, é nosso dever e função, enquanto profissionais da informação e detentores dos documentos com essa informação, receber todas as questões, explicar e orientar da melhor forma as pesquisas de quem nos procura. Isto em sempre é fácil, pois há um desconhecimento quase total das fontes e do conteúdo informacional das mesmas, por parte de quem começa a realizar estas pesquisas. Muitas vezes, as informações que possuem à partida não nos permitem sequer encontrar registos paroquiais. O nosso papel é orientar para as fontes corretas, explicar como podem ser pesquisadas e esclarecer o melhor possível as dúvidas que são colocadas. Este manual serve perfeitamente tais propósitos e – penso – a sua leitura prévia permitirá a muitos colocar as questões certas nos arquivos, obtendo
resultados e respostas mais céleres e acertados, conseguindo avançar mais corretamente nas suas pesquisas. Muitas das questões respondidas neste manual são colocadas diariamente a todos os arquivos e em todos os principais fóruns e grupos de Genealogia nas redes sociais. E, como manual que é, este livro não faz: ajuda a fazer. É essa a sua função.
MyHeritage: Quais são as vantagens do programa MyHeritage, ele é mencionado no livro?
FQ e CM – O MyHeritage é um dos programas mencionados no livro, visto ser um dos mais utilizados em Portugal e no Brasil. Contudo, o manual não especifica as características dos programas de Genealogia, nem sequer os avalia de forma comparativa, pois isso seria muito arriscado, face às inúmeras funcionalidades que podem vir a ser melhoradas. No livro “Descubra as suas origens” são, sim, abordadas as vantagens dos programas informáticos de Genealogia e os cuidados a ter na sua utilização.
MyHeritage: Quais são as principais fontes de pesquisa no Brasil e em Portugal?
FQ – Essa questão é abordada no livro em detalhe, não para o caso do Brasil, mas para o caso de Portugal, pois os autores têm experiência de pesquisa em Portugal. Além dos fundos paroquiais e, no caso do Brasil, de fundos contendo dados sobre emigração, costumo insistir bastante na questão dos cemitérios e na quantidade de informação que nos podem dar, assim como na questão da imprensa que, para o século XIX sobretudo, são uma fonte muito importante para todas as famílias que viviam em contexto urbano. O livro agora publicado explica tudo isso, com recurso a exemplos.
CM – Para além dos registos paroquiais (que são, efetivamente, os mais conhecidos, consultados e solicitados) há toda uma panóplia de informação em diversas outras fontes – o que este Manual tenta expor, explicar e descrever. Devido à adesão do Brasil à Convenção de Haia (Agosto de 2016), as facilidades burocráticas para a certificação de documentos entre o Brasil e os outros estados membros ficou muito mais facilitada, o que tem resultado num crescente número de pedidos de registos certificados para obtenção de nacionalidade portuguesa, por exemplo. Não obstante, muitos não têm referência alguma à proveniência geográfica específica desses antepassados, o que dificulta o início da pesquisa. Os registos de passaportes e a consulta dos registos atualmente “online” no Museu da Imigração (registos de matrícula da antiga Hospedaria de Imigrantes do
Brasil), por exemplo, são boas hipóteses para um começo. Este assunto é também explicado no manual “Descubra as suas origens”.
MyHeritage: Quais conselhos vocês dariam para quem está começando a pesquisa genealógica?
FQ – O principal conselho é mesmo ler o livro, pois ele está cheio de conselhos e dicas. No geral, alguns dos conselhos fundamentais são: persistência na pesquisa; não procurar apenas as histórias que dão mais lustro à família, escondendo as demais, pois é preciso honestidade no trabalho de investigação; ter muito cuidado com a bibliografia, pois há várias obras de Genealogia cuja fiabilidade é baixa; ter mais cuidado ainda com as informações existentes na Internet; ser diplomático no modo
de abordar os parentes que podem dar informações e no modo como essas informações são depois usadas e partilhadas. Todos estes conselhos são explicados com detalhe no livro.
CM – Diria: leiam o manual. Percebam quais são as fontes, o que contêm e onde podem ser consultadas. Como podem ser solicitadas informações e reproduções; como podem e devem ser estas informações interpretadas. A partir daí, começar e avançar; persistir; pedir ajuda, se necessário.
MyHeritage: E quais são os conselhos para aqueles que não conseguem avançar na pesquisa?
FQ e CM – É sempre possível avançar, não só para trás no tempo, mas também para os lados e, sobretudo, ao nível do aprofundamento das informações sobre antepassados cujos nomes já conhecemos. Basta pensar que, em cada ano, há cada vez mais documentos que são desvelados, e muitos deles colocados na Internet. É claro que, se alguém estiver fixado apenas na
ideia de recuar até à Idade Média, poderá chegar a um ponto em que, para quase todos os ramos, isso não seja mesmo possível. Porém, na história da nossa família há muita coisa interessante por descobrir que não depende de se recuar muito no tempo. Além disso, com recurso a estudos de ADN é possível estabelecer inusitadas ligações de parentesco. Quanto mais pessoas fizerem esses estudos genéticos, mais informações poderemos obter no futuro. A Genealogia é um trabalho sempre inacabado e mais recursos estarão disponíveis num futuro próximo.
MyHeritage: Um tema que sempre tem muito interesse no nosso blog é o dos cristãos-novos. O que vocês teriam a dizer sobre o assunto?
FQ e CM – Nos últimos anos, tem havido um crescente interesse pelas questões religiosas e étnicas na Genealogia. Trata-se de uma visão mais alargada da Genealogia, que, não por acaso, pode mesmo ser chamada de História da Família, se a abordagem for suficientemente diversificada e objecto de análise e enquadramento históricos. Ora, na História, não basta saber nomes, datas, localidades. É preciso caracterizar e perceber os indivíduos na marca que deixaram, no modo como se integraram na sociedade, na maneira com foram influenciados e se posicionaram socialmente. Sim, isso é complexo e, para tal, existem historiadores profissionais. Atendendo ao elevado número de antepassados nossos que viveram antes da chegada da Inquisição a Portugal, é enorme a probabilidade de alguns deles terem sido judeus, sobretudo se viviam em determinadas localidades ou se
tinham determinadas profissões. Sobre o que isso significa; sobre o que isso pode ter implicado nas gerações seguintes, há ainda muito desconhecimento e, sobretudo, muitos mitos e informação incorrecta na Internet. No livro que escrevemos, procurámos esclarecer alguns destes pontos, mas trata-se de um tema demasiado específico para que possa ser aprofundado num manual de carácter generalista. Talvez futuramente alguém aceite o desafio de escrever um livro sobre os judeus e os cristãos-novos, na óptica de esclarecer de forma mais detalhada quem pesquisa a sua genealogia.
Sobre os autores:
Francisco Queiroz é historiador de arte e Coordenador adjunto do Grupo de Investigação “Património, Cultura e Turismo” do CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade (Universidade do Porto). É também membro da Associação Portuguesa de Genealogia e autor de vários livros, alguns dos quais sobre História da Família.
Cristina Moscatel é Mestre e doutoranda em História Insular e Atlântica e Pós-graduada em Ciências Documentais / Arquivo. É ainda assistente de investigação do Centro de História de Aquém e de Além Mar (CHAM) e Chefe de Divisão de Arquivo da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.
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Manuel Jorge Patriarca
26 de outubro de 2016
Porque sinto em mim os genes dos meus antepassados,quanto á Cristina já pensou que algum antepassado teria recebido como alcunha o nome da famosa uva