Gostei da entrevista no MyHeritage, já conheço o café história mas não sou cadastrada, não consigo, li há algum tempo sobre Candiane e o bairro Santa Cruz, onde falam de Marietta (Maria ) Baderna.
Faço uma pesquisa sobre a Baderna sou uma de suas trinetas, faço Árvore Genealógica da Família Baderna Giannini, tenho informações que as histórias que falam dela estão faltando, existem muito erros de datas como a do seu falecimento, casamento e os filhos.
Agradeço a atenção. Marilia


Hoje temos o prazer de trazer uma entrevista muito especial para vocês, especialmente para os interessados em História. O entrevistado é o Historiador Bruno Leal, que coordena, com muito êxito, o site Café História.
Boa leitura!
MH- Bruno você é jornalista, historiador, professor e fundador da rede social Café História. Você pode nos contar um pouquinho mais sobre as suas inúmeras atividades?
BL – Claro, será um prazer. Comecemos pelo Café História (http://cafehistoria.ning.com). O Café é uma rede social online voltada exclusivamente para historiadores ou pessoas que simplesmente gostam de história, sem serem necessariamente formadas na área. Eu fundei a rede em 18 de janeiro de 2008, a partir de uma plataforma americana chamada Ning, que permite que qualquer pessoas crie a sua própria rede social. São duas as principais propostas do Café História: 1) Estabelecer um espaço de divulgação do conhecimento histórico, aproximando o grande público da universidade e os próprios pesquisadores acadêmicos entre si; 2) Estabelecer um espaço democrático, diverso e transparente de trocas e interações em história. Em pouco mais de seis anos de trabalho, esses objetivos foram alcançados de forma bastante satisfatória. Hoje, temos a maior rede social de história da internet. No Café História, encontram-se cadastradas mais de 54.000 pessoas. Essas pessoas acessaram a rede, fizeram um cadastro, ganharam uma página pessoal e acesso ilimitado aos conteúdos do Café História. Todo participante pode colaborar com a rede, comentar, trocar mensagens e acessar todos os nossos espaços. Há entrevistas, reportagens, artigos, resenhas, vídeos, fotos e grupos de estudos, entre outros. Tudo gratuito. Eu diria que o Café História é uma rede social combinada com um portal. Além do próprio Café Historia em si, estamos presentes também no Facebook, no Twitter, no Google Plus e, mais recentemente, no Youtube, onde temos o Café História TV. É o nosso produto mais recente. O seu endereço é: http://youtube.com/cafehistoriatv.
Além disso, estou terminando meu doutorado no Programa de Pós-Graduação em história Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHIS/UFRJ). Minha pesquisa é sobre estrangeiros acusados de crimes de guerra nazistas no Brasil do pós-guerra. Exploro um caso em especial, o do imigrante letão Herberts Cukurs, que chegou ao Rio de Janeiro em 1946. Famoso por ter criado os “pedalinhos” da Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio, Cukurs foi acusado em junho de 1950 pela Federação das Sociedades Israelitas do Rio de Janeiro se ser o responsável pela morte de mais de 30 mil judeus durante a ocupação nazista da Letônia. Cukurs sempre se disse inocente enquanto viveu. Foi um caso muito interessante e que nos ajuda a compreender um pouco do lugar do Brasil no contexto do pós-guerra. Cukurs morreu em 1965, em Montevidéu, Uruguai, executado por agentes do Mossad, o serviço secreto israelense.
Além dessa pesquisa, que me mobiliza imensamente, eu faço parte do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos da UFRJ (NEIJ), eu sou tutor-professor do curso EAD em história da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
MH – Você tem pesquisado muito a respeito do nazismo e holocausto. Como surgiu este seu interesse? E existe uma relação entre o nazismo e o Brasil?
BL – É uma boa pergunta (risos). Na verdade, acho que isso tudo começou na época de graduação, quando pela primeira vez eu entrei em contato com a questão da memória social. E aí, é impossível falar de memória, ainda mais no século XXI, sem passar pela experiência do Holocausto. Então, uma coisa foi levando a outra. Em meu mestrado, numa área interdisciplinar chamada Memória Social (UNIRIO), explorei as comemorações de sessenta anos da libertação dos campos de concentração na imprensa, a maneira como essa data foi lembrada. No doutorado, acabei me envolvendo mais com outro tema correlato, aquele que apontei há pouco, sobre estrangeiros acuados de crimes de guerra nazistas no Brasil. É um tema muito importante e praticamente inexplorado pela historiografia brasileira.
Quando falamos na relação entre nazismo e Brasil, quase sempre lembramos da seção do Partido Nazistas no Brasil (o maior fora da Alemanha), dos espiões nazistas em nosso país, da extradição de Olga Benário, dos Integralistas, das circulares secretas do Itamaraty que restringiram a entrada de judeus no Brasil durante os anos 1940 e 1950, mas quase nunca escutamos falar no período do pós-guerra mesmo, sobre nossa relação com o espólio do Terceiro Reich. E, talvez, por isso, tenhamos visto tantos mitos misturados com acontecimentos reais. Minha tese tenta dar conta deste terreno ainda meio cinzento.
MH – Você também coordena o Núcleo Interdisciplinar dos Estudos Judaicos da UFRJ. Que tipos de projetos são desenvolvidos por lá?
BL – Na verdade, eu não coordeno o núcleo. Quem o coordena é a professora Monica Grin, ao lado do Michel Gherman. Eu desenvolvo uma espécie de sub-coordenação. O NIEJ tem crescido bastante nos últimos anos. Nós oferecemos disciplinas e laboratórios aos alunos de graduação, organizamos cursos de extensão e aperfeiçoamento para professores, publicamos semestralmente a Revista Digital do NIEJ, temos um blog (http://niej.historia.ufrj.br/), além de várias outras atividades, como projetos de pesquisa propriamente ditos, conferências, palestras, etc. Mais recentemente, nosso escopo tem se ampliando ainda mais, ao incluir estudos árabes em nossa agenda de pesquisa.
MH – De onde vêm os seus próprios antepassados? Você já pesquisou a história da sua família?
BL – Como historiador, você acaba aguçando um pouco desta curiosidade. Meu pai, avó, avó e por aí adiante são portugueses do Porto, mais especificamente da freguesia de Águas Santas. Meus avós e meu pai vieram para o Brasil em meados dos anos 1950. Já minha mãe é brasileira, nascida do Rio de Janeiro. Mas boa parte de família dela é de Lorena, interior de São Paulo. Meu avó materno era de Manaus. Seus pais eram do Peru. Enfim, como todos hoje no mundo somos, sou fruto de uma grande mistura. Ano passado, depois de conseguir minha nacionalidade portuguesa, fui conhecer Portugal. Foi maravilhoso ver um pouco mais de perto aquilo que eu só conhecia de ouvir falar. Falta agora conhecer um pouco mais de Manaus e, quem sabe, do Peru.
MH – Como pesquisador e historiador: a genealogia também faz parte dos seus assuntos de interesse?
BL – Como tenho parentes muito próximos com origem estrangeira, eu tenho muito interesse em descobrir um pouco mais do passado da minha família. É sempre uma grande diversão. Descobrir o diferente é um exercício de desapego a identidades fixas e bem delimitadas. Sempre que tenho um tempinho disponível, tento reunir mais informações a respeito. Hoje, isso acaba sendo mais fácil, graças as novas tecnologias.
MH – Porque alguns historiadores enxergam a genealogia com certa desconfiança?
BL – Essa desconfiança vem do início do século XX, quando a chamada história da Escola dos Annales, surgida na França, questionou e rompeu com um cânone historiográfico do século XIX, extremamente ligado ao positivismo, ao historicismo, ao eminentemente factual. Esse antigo cânone guardava uma íntima relação com algumas das chamadas “ciências auxiliares da história”, entre as quais a “genealogia”, que na época era muito empregada para afirmar origens nobres e as consideradas não tão nobres assim. Com a Escola dos Annales, a história mudou de status, mudou de paradigmas. O historiador deixou de se interessar pelos indivíduos sozinhos, pelas “origens” e passou a se interessar mais por “problemas”, pelo corpo social. É com esse modelo de história, em resumo, que trabalhamos até hoje. É claro que a nossa concepção de genealogia (seus usos principalmente) são bem diferentes daquela dos homens do século XIX. Mas essa desconfiança permaneceu entre os historiadores. No fundo, trata-se de algo menos consciente de nossa parte, eu diria. Historiadores não desgostam de genealogia, mas simplesmente não a consideram como parte do seu ofício de historiador. No lado pessoal, acho que historiadores estão no mesmo lugar das demais pessoas: conhecem pouco sobre genealogia. Isso se reflete no interesse que eles têm pelo campo. Com o tempo, com a divulgação desta “nova genealogia”, acho que isso vai acabar mudando.
MH – De que forma é possível embasar a pesquisa familiar para que ela tenha valor histórico?
BL – Olha, essa é uma pergunta difícil. Isso depende muito da pesquisa de cada um. Em se tratando de história acadêmica, a história familiar não é um elemento fundamental. Mesmo em trabalhos de cunho biográficos, ela é apenas um elemento extra, um acessório, uma curiosidade. Na verdade, acredito que a pesquisa familiar é fruto de uma busca pessoal, um curiosidade que parece estar dentro de cada pessoa, interessada em saber mais sobre a trajetória de seus antepassados. E isso é super legítimo. E bonito também. É uma forma de conexão com o passado. Neste caso, a genealogia é um caminho que não dá pra ignorar. A pessoa pode começar em casa, conversando com pais, avós. Depois, pode reunir documentos, fotografias e, finalmente, procurar auxílio especializado. Chega um momento em que não é fácil relacionar todas as conexões. Felizmente, a tecnologia está aí para nos ajudar nisso.
MH – Que conselhos você daria para aqueles que estiverem iniciando a sua pesquisa da história familiar?
BL – Como eu disse, o começo de tudo está mais próximo do que imaginamos: dentro de casa. Pais e avós adoram falar sobre o passado. Então, eu começaria daí. E é inevitável: sempre surgem históricas incríveis, curiosas, tristes, alegres, como ocorre em toda família. E se trata de um conhecimento que nunca se dá por satisfeito: sempre queremos ir mais longe, regressar mais e mais no passado. É muito interessante. Nos dá a chance de vermos a nós mesmos como o produto de uma combinação extremamente sofisticada, variada.
Muito obrigada, Bruno, pela entrevista! Desejamos muito sucesso no Café História e esperamos que mais historiadores vejam na Genealogia um ramo importante da História.
Rodrigo Trespach
28 de fevereiro de 2014
Parabéns pela entrevista Bruno!
Apenas discordo que a genealogia seja “apenas um elemento extra, um acessório, uma curiosidade”. Genealogia não, como os historiadores costumam dizer, somente nomes e datas. Esse preconceito existe mais no Brasil do que em outros países.
Um banco de dados familiar de determinado grupo pode auxiliar a compreender as relações sociais do mesmo, o “corpo social”, sem individualismos. Há exemplos neste sentido no Brasil, poucos, mas há. A Drª Woortmann, da UnB, usa muito bem esse cruzamento de dados para o estudo das relações de grupo.
Também trabalhei com a Memória (Tradição Oral) e sua relação com a História no meu último livro “O Lavrador e Sapateiro” (EdiPUCRS, 2013; ), onde a genealogia foi fundamental para entender os processos transferências e apropriações da memória humana. E o resultado foi muito positivo.
Sucesso, Abs