De mãos dadas pela eternidade

De mãos dadas pela eternidade

O cemitério Nabij de Kapel in ‘t Zand, na localidade de Roermond, na Holanda está dividido em várias seções. Os túmulos são classificados de acordo com a religião e separados com paredes de pedras. O posicionamento reflete as crenças religiosas durante o século XIX.

No entanto, em Najib de Kapel in ‘t Zand temos um caso especial. Dois túmulos, cada um em uma seção diferente do cemitério (protestante e católico) se erguem e se dão as mãos, fundindo-se em um símbolo de amor universal e de unidade que transcendem as barreiras e as convenções a que estão amarrados.

Lápide de Jacob W. C. van Gorkum. Fonte: cc-by-sa-3.0-Frank.Janssen

Lápide de Jacob W. C. van Gorkum. Fonte: cc-by-sa-3.0-Frank.Janssen

Este é um exemplo de um relacionamento especial em que o status quo, as crenças e estigmas foram deixados para trás para dar lugar a uma fonte global de inspiração para muitos.

No detalhe, as mãos dados para toda a eternidade. Imagem: cc-by-sa-3.0-Frank_Janssen

No detalhe, as mãos dados para toda a eternidade. Imagem: cc-by-sa-3.0-Frank_Janssen

Van Gorkum

No dia 10 de janeiro de 1809 nasce o holandês, de religião protestante, Jacob Waernerus Constantinus (Werner Constantin), nascido em Amsterdã e filho de Jan Egtbartus (Egbertus) van Gorkum (1780-1862) e de Jacoba Lydia Maria de Bère (1787-1849). Jacob foi batizado no dia 29 de janeiro de 1809, numa antiga Igreja em Amsterdã.

Jacob Werner Constantin van Gorkum. Imagem: Nationaal Militair Museum (NMM) Soesterberg

Jacob Werner Constantin van Gorkum. Imagem: Nationaal Militair Museum (NMM) Soesterberg

Jan, o pai, fez carreira no Exército e alcançou o posto de major-general, além de ter sido um cartógrafo militar muito talentoso. Jan Egbertus teve uma contribuição significativa na Batalha de Waterloo e o retrato de sua esposa Lydia salvou sua vida: uma bala foi desviada graças ao medalhão que ele levava no pescoço.

No dia 3 de novembro de 1842 Jacob Werner Constantin van Gorcum, coronel do Exército, se casou com a católica Josephina Carolina Petronella Hubertine van Aefferden. Eles se casaram na Alemanha, perto da cidade de Venlo. Tal casamento, com pessoas de classe e religiões diferentes, no século XIX, não era assim tão comum. Apesar de tudo, eles decidiram se casar ainda assim e tiveram vários filhos.

Van Aefferden

Josephina van Aefferden, nasceu no dia 28 de junho de 1820 em Roermond, a penúltima filha de uma família de 10 filhos de Johannes Baptist van Aefferden (1767-1840), membro do Conselho distrital de Limburg e a nobre Maria Agnes Petit (1779-1861).

O pai Johannes Baptist van Aefferden foi um membro do Conselho de Venlo e foi nomeado Cavaleiro de Limburg, obtendo um título da nobreza, tornando-se um ancestral nobre de famílias holandesas e belgas. O ramo holandês desta família terminou em 2006.

Aqui estão os filhos do casamento entre Johannes B.A.F.J. van Aefferden & Maria A. B. H. Petit:

  1. Pieter Ernestus Gustavus van Aefferden (1804-1805)
  2. Franciscus Adamus Ernestus Felix van Aefferden (1806-1838)
  3. Albert Peter Joseph Burggraaf van Aefferden (1808-1892)
  4. Charlotte Maria Bernardina van Aefferden (1809-1892)
  5. Felix Hendrik Johannes Hubertus van Aefferden (1811-1842)
  6. Ernestina Francisca Hubertina van Aefferden (1813-1820)
  7. Josephus Cornelis Hubertus van Aefferden (1815-1837)
  8. Maria Johanna Hubertina van Aefferden (1818-1836)
  9. Josephina Carolina Petronella Hubertine van Aefferden (1820-1888)
  10. Maria Theresia Adriana Hubertina van Aefferden (1822-1836).

Morte de J.W.Z van Gorkum

Quando Jacob van Gorkum faleceu no dia 29 de agosto de 1880 em Roermond, seu túmulo foi erguido junto ao muro da seção católica do cemitério. Muito provavelmente o desejo do casal já tinha sido esquematizado. Para o público, no entanto, era um mistério a escolha do local.

Não está claro se na altura o monumento já tinha uma estrutura adequada ou se esta foi feita posteriormente, juntamente com a construção do túmulo da esposa.

Oito anos mais tarde, quando a viúva de van Gorkum também falece, no dia 29 de novembro de 1888 ela não é enterrada no jazigo da família – que tem um local prominente, no centro do cemitério – mas sim, em frente ao túmulo de seu marido, que foi erguido junto ao muro. Finalmente, o monumento estava completo.

Jazigoda Família van Aefferden. Fonte: cc-by-sa Janssenfrank

Jazigoda Família van Aefferden. Fonte: cc-by-sa Janssenfrank

Túmulo de Josephina van Aefferden, Fonte: cc-by-sa3.0 Janssenfrank

Túmulo de Josephina van Aefferden, Fonte: cc-by-sa3.0 Janssenfrank

O casal parece ter decidido que “até que a morte nos separe” não era bom o suficiente para eles…

Comentários

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  • Maria Lúcia Bernardini

    6 de março de 2014

    Que postagem comovente! Que casal exemplar! Refletem, para a eternidade, a tolerância, o respeito que os Homens deveriam aprender a ter e a exercer para que o mundo fosse melhor. Parabéns, Karen, pela redação do texto. No MyHeritage, temos a ferramente “Cemitério Virtual”, onde podemos postar as fotos de túmulos/jazigos de nossos parentes falecidos. Sabemos que cemitérios não são locais benquistos por todos – temos que respeitar aqueles que não gostam deles – porém, muitas vezes, neles encontramos túmulos/jazigos de ancestrais, datas para que possamos procurá-los em cartórios e preencher os perfis e até fotos dos falecidos que se tornam fotos pessoais. Abraços.

  • Jorge Nelson Coutinho Regis

    6 de março de 2014

    Karen achamos linda essa história, realmente a máxima “até que a morte nos separe” não deve ser o fim de um grande e intenso amor, preferimos acreditar mais no escrito dos poetas que falam na existência de “O Amor Depois do Amor”. Os que gostaram do artigo acima poderiam assistir ao filme de “Marizinha e Jorge Nelson” para entenderem as dificuldades a que muitos amores são submetidos e resistem.

  • jacqueline lima

    7 de março de 2014

    linda a historia deles vcs falam que a geração deles terminou em 2006, na tem mais binguem da família viva.
    como eu poderia fazer a minha estoria?? gostaria de saber dos meus ancestrais

  • Alfredo Veiga

    19 de março de 2014

    Casaram morreram mas levaram com eles a intolerancia religiosa, abençoada Estupidez.

  • Ronaldo Ferreira Rodrigues

    19 de março de 2014

    simplesmente lindo

  • Roque Hammes

    19 de março de 2014

    Emocionante a história. Além do lindo relato é uma história que mostra o quanto são desprezíveis as práticas de discriminação religiosa, social, racial, etc. Que o exemplo motive outras pessoas a serem menos preconceituosas e se darem as mãos, mesmo que para isso seja necessário ir além dos muros.

  • Nino Barbosa

    19 de março de 2014

    Os dois lados dos cemitérios são VELADOS PELO MESMO DEUS OU NÃO?Quando cadáver a alma vai para o Lugar destinados aos que fazem obras e não para os que , apenas , frequentam a Igreja e pedem mais bens materiais

  • Lourdes Amália Pedrassani

    19 de março de 2014

    Lindo relato. Obrigada por compartilhar essa bela história de amor que atravessou a barreira do tempo e do preconceito.

  • Neide Fernandes da Cruz

    19 de março de 2014

    Independente de religião, Deus em sua palavra diz que vem buscar um povo, que Guardam os Seus Mandamentos e permanecem fiéis a Jesus. Apocalipse capítulo 14 verso 12

  • STOESSEL PINHEIRO

    19 de março de 2014

    RELIGIÃO SIM, RELIGIOSIDADE NÃO…. O DEUS É O MESMO!! AS CONTAS SERÃO PRESTADAS A “ELE”. CADA UM CULTUE A SUA FÉ, RELIGIOSIDADE , PURA IGNORANCIA. O SR. JESUS FOI AÇOITADO, HUMILHADO E PREGADO EM UMA CRUZ POR RELIGIOSIDADE E FANATISMO, FUJAMOS DISSO NÃO É SADIO.

  • Linda

    19 de março de 2014

    “O verdadeiro amor, atravessa as barreiras do tempo e espaço”

  • magda a.s

    19 de março de 2014

    Muito legal!
    ” O Amor é forte como a morte”.

  • Devanir

    19 de março de 2014

    Os comentários importantes já foram feitos. Então gostaria de comentar que talvez haja um erro de ano no trecho “No dia 10 de janeiro de 1908 nasce o holandês”. Penso que seria 1809.

    • Karen

      20 de março de 2014

      Oi Devanir, muito bem observado! Já corrigi lá no post!
      Obrigada,
      Karen

  • Paulo Aquilino

    19 de março de 2014

    Independente, de religião,raça ou cor somos filho do mesmo Deus até que prove o contrário, certas leis criada pelo homem com o intuito de fazer divisão entre os seres humanos não esta na lei de Deus, este casal demostrou tudo isso.

  • APARECIDA MEIRI FERRAZ DE CAMPOS NABHAN

    19 de março de 2014

    História muito linda além de ser uma bela lição de vida, na qual o verdadeiro amor não tem fronteira ……

  • Guiomar M.G.manetta

    20 de março de 2014

    Linda a história ,más eu acredito que a morte nos separa dos corpos carnais , o amor e a vida não morre jamais ,porque somos Filhos de DEUS e a vida continua na eternidade .

  • Mônica

    20 de março de 2014

    eu acho que eles poderiam ter sido enterrados lado a lado, ai sim teriam passado a lição que havia respeito e que o amor transpõem as barreiras da discriminação religiosa, mantiveram sua fé cada qual com seu Deus, uma pena , não posso ver beleza nisso!

  • Teresinha Cidade

    20 de março de 2014

    Na minha opinião religiões foram criadas pelo homem,muitos para fazerem dela comércio. Este casal é o mais piro exemplo que se Deus está no coração dos homens o amor verdadeiro é eterno.
    Lindissima historia de amor.

  • Aiclér

    21 de março de 2014

    Seria muito bom que esse exemplo iluminasse as pessoas vivas e reduzisse ou eliminasse a intolerância religiosa, uma vez que crença é individual e não imposta, devemos respeitar as pessoas pelo que elas são e creem, pois temos a liberdade de acreditar no que bem queremos.

  • M.Celeste Araújo

    26 de março de 2014

    Como disse a Guiomar a vida continua na eternidade porque todos somos filhos e filhas de Deus e Deus é Amor. Se ELE instituiu o casamento entre homem e mulher porque separaria as famílias após a morte? Acredito numa nova vida para além da morte, porque o Amor entre os homens não morre só porque se morre. Exemplo lindo desse casal.

  • Baltasar Englert

    1 de abril de 2014

    Sou ecumênico e sempre achei que depois morte, não faz sentido de enterrar em cemitérios separados mesmo não sendo da mesma familia.
    Nem deviam existir cemitérios católicos e protestantes em uma mesma comunidade.

  • Gilson Gomes Soares

    1 de abril de 2014

    Eu enalteço esta linda postagem como exemplo de tolerância humana, respeito e amor; até porque, é sabido por todos que nenhuma placa de igreja nos salva! Mas sim, Yeshua, que padeceu no madeiro para nos salvar. Diante de fatos como este, me faz avivar ainda mais o significado das igrejas existentes. Todas elas são como a boca de um fogão de lenha, e nós todos somos as achas, que postas no altar com cânticos e aclamações, alegra Adonai Elohenu, a nos curar, a nos dar vitórias e a nos salvar pela graça de nosso Senhor Yeshua.

  • Celma Martins

    11 de abril de 2014

    Eternizaram-se da melhor maneira que possível foi.
    Acredito que tenha sido essa a forma que encontraram de mostrar ao mundo que as limitações e regras impostas pelo homem, um amor verdadeiro e sabio acata de um jeito mais sublime.

  • Albano Ferraz

    15 de novembro de 2014

    A “religião” não passa de tretas inventadas pelo ser humano.
    Quando alguém morre, obviamente, tudo o que foi, tudo o que sentiu, etc, morre também.
    Tuuudo o resto é p’ra quem cá fica …
    Mas é uma “história” bonita !!

  • Eliphas levy campos machado junior

    15 de novembro de 2014

    Muito linda está história isto prova que o amor não morre

  • Solange Sacconi Falcão

    16 de novembro de 2014

    As vezes precisa acontecer isto p/que alguem possa provar que diferenças existem para os homens e não para Deus. E que alguem se mova para dar o exemplo. Na eternidade só haverá a religião que Cristo fundou. Mas as pessoas ainda continuam tendo o seu livre arbitrio.

  • Maria Matos

    17 de novembro de 2014

    Caro Primo Albano
    1º Comentário:
    1º- a “história é bonita!!” – não é “História” é estória- a História não é para aqui chamada.
    2º- A “religião” não passa de tretas inventadas pelo ser humano; “religião” subs., fem., sing., …”tretas”- subs., fem., plu., “…pelo ser humano”- mamífero primata, bípede, com capacidade de fala e que constitui o género humano. Não é lição de gramática, é uma forma de ensinar português aos brasileiros, língua que sendo oficial no Brasil, não deixa de ser lusófona e nós falamos Português.
    2º Comentário:
    O artigo da Karen é uma estória interessante mas com um senão, aliás mtº à brasileira. Podia ter sido escrito como um artigo onde a História dos Cemitérios da Holanda fosse mais falada pois é um país cuja esta temática não está mtº divulgada e menos, à brasileira, com um título novelesco, uma estória que vista pelo ponto “lacrimis Christis” a Karen sabe que mais agrada, mas que não acrescenta nada de interessante à importância que as visitas aos Cemitérios dos nossos países podem nos dar acerca dos nossos antepassados. O que a Karen escreveu não tem nada a ver com morte, religião, amor; isso já é, tal como desejava conseguir, “bonitos, sentimentais, piedosos” comentários. Tal como dizes quando morremos é por inteiro, o resto é para quem fica e só até ao dia em que formos lembrados porque depois nem isso. Costumo dizer que a Humanidade, pelo menos até há existência actual, não conseguiu controlar 3 coisas- 1ª ninguém pede para nascer, 2º ninguém pede para nascer na família onde nasce e 4º todos morremos. Assim sendo tudo o mais a Humanidade, através da existência de tantos milhões de anos, “Inventou” e vai continuando a fazê-lo. E quanto a Cemitérios para ti e para mim o expert da família é o Frº Q., de acordo?
    Aproveitando esta deixa, não há mais notícias das nossas ascendências, que possas enviar-me umas dicas-relacionamentos sobre tudo os mais próximos (sem estórias de mal dizer, claro) e umas estórias antigas. Anda mtª família atrás dos “Meireles” e sei que sabes umas coisas.
    Um cordial braço

  • sergio bueno dos santos

    18 de novembro de 2014

    sou fa de semiterios, e meu passeio preferido , pelas historias contadas em cada tumulo, quanto mais antigo mais interessante

  • Oraide Dias da silva

    20 de novembro de 2014

    Esta história real tem ingredientes suficiente para um belo filme de romance. Muito interessante!

  • Maria Lucia Reple

    21 de novembro de 2014

    o símbolo das mãos dadas é para os que diferenciam as religiões, credos, cor raça e etc…. mãos dadas quer dizer cumplicidade, harmonia e compactuar da verdade. a única coisa mais nobre no ser humano é o amor; não simplesmente o amor de um homem por uma mulher, mas o amor entre raças, nações, religiões. Este é o puro amor pregado por Jesus. Sem amor não conseguiremos ajudar ao próximo e muito menos ajudar a nós mesmos, porque o amor é puro, transcendem ao entendimento humano, porque ele é vindo do próprio DEUS que diz não julgar para que não sejais julgados.

  • Caio

    14 de maio de 2020

    O texto é bonito mas está errado. Segundo a convicçao dos próprios, eles nunca estiram totalmente unidos. Maximo que sobrou foi um aperto de mão, foram enterrados separados, e estão assim pela eternidade.
    É duro mas é a verdade. E eles sabiam disso.