O cheiro dos livros

O cheiro dos livros

A tecnologia em alguns momentos assusta algumas pessoas. Em um recente encontro com um historiador, discutíamos a transferência de um grande acervo para arquivos digitalizados. Ele, manifestou sua preocupação e temor de que um dia, as pessoas deixarem de visitar museus e arquivos. Tem lógica. Afinal, é mais barato uma pesquisa feita pelo computador do que a busca de um documento em loco.

A rapidez como nos transferimos de um museu virtual para outro museu virtual é impressionante, digo, é um simples clicar de botões.

E então? Os arquivos originais seriam legado de traças? Não.

Sempre vai existir a vontade em todos nós de ver o documento. Assim é comigo e deve ser também com você.

Quando eu peço um documento via internet, o motivo é a rapidez com que ele chega até mim com as informações que eu preciso, mas, negocio o envio do documento pelas vias normais de correspondência. É necessário colocar a mão no documento, sentir seu cheiro, sentir a textura.

Estive recentemente em um dos maiores acervos de documentos históricos do Brasil, no Arquivo Público Mineiro em Belo Horizonte.

Fachado do Arquivo Público Mineiro - Belo Horizonte - Minas Gerais - Brasil

Fachado do Arquivo Público Mineiro - Belo Horizonte - Minas Gerais - Brasil

A visita foi para mim uma grata satisfação. O Arquivo, diferente dos demais, esta situado em uma das ruas centrais de Belo Horizonte, em um casarão antigo que tem bem o jeito mineiro de receber os visitantes. “Pode entrar que a casa é sua”.

Subir pelos degraus do casarão, ser recepcionado e explicar a sua vontade de apenas estar em um local tão sagrado para historiadores e pesquisadores é uma grande emoção. A História de um país esta entre aquelas paredes.

Na sala de pesquisa, enquanto eu conversava com a responsável pela sala, fomos interrompidos por uma jovem pesquisadora que solicitou um catalogo para sua pesquisa. Sentou-se e começou a pesquisar enquanto continuávamos nossa conversa.

Deve ser eu que observo estes detalhes, mas, pude perceber que a pesquisadora, pegou o livro como se pega uma criança, colocou sobre a mesa e começou delicadamente a procurar a página de seu interesse, página por página.

Este fato me veio a mente enquanto discutia sobre a modernidade com meu amigo.

Já estive em arquivos e visitei acervos que não são parecidos com o de Minas Gerais, são muito diferentes. Sofrem do descaso. Estão abandonados e se perdendo, ou pela poeira do esquecimento ou pelo mal uso dos que frequentam estes arquivos.

Falta orientação, falta cuidado, falta investimento e falta um pouco de consciência histórica do povo. Em um deles vi jornais com mais de 90 anos amarrados e recebendo umidade, e em outros um precário “SISTEMA” de pesticidas envolvendo os papeis. Se o tempo não destruir, o pesticida o fará.

Minha tese de defesa da digitalização de documentos se ancora nestes fatos. Milhões e milhões de documentos deixam de existir no Brasil porque não são “protegidos”, mas, uma vez digitalizados, o acesso a estes documentos não será público e sim feito por profissionais especializados.

Milhões e Milhões de documentos ainda estão em mãos erradas, em acervos particulares, longe do controle e longe da preservação.

Vão se perder.

A ideia da digitalização é preservar pelo menos a imagem do documento. Salvar a memória das inúmeras dificuldades que um documento histórico tem hoje em sobreviver ao Homem. Estes documentos são a História do Ser que não cuida de sua História.

Não é um caso generalizado, mas muitos que trabalham com documentos antigos já presenciaram estas ou coisa piores ainda.

Não é novidade que nosso site MyHeritage, agora de cara nova, mantem como uma de sua principais funções permitir aos nossos usuários que usem o espaço para arquivar documentos digitalizados. Isso é preservar de uma certa forma a História.

Em Minas, a História esta protegida, profissionais tomam conta dos documentos, pesquisadores frequentam o espaço. Em muitos outros lugares não é assim.

Como é feito em sua cidade a preservação da documentação histórica? Qual é o valor que os moradores da cidade dão a estas relíquias?

Você tem influência para salvar alguns destes documentos? Digitalize. Use nosso site para arquivar. Vamos adorar a sua iniciativa.

Suba os degraus da história, assim como eu subi os degraus do Acervo Mineiro.

Arquivo Público Mineiro - Belo Horizonte - Minas Gerais - Brasil

Arquivo Público Mineiro - Belo Horizonte - Minas Gerais - Brasil

Você é de Minas? Conhece o Arquivo Público Mineiro?

Av. João Pinheiro 372, Funcionários – 30130-180

Belo Horizonte, MG – Brasil

Telefax: (31)3269-1060 / (31)3269-1167

Site: www.siaapm.cultura.mg.gov.br

Comentários

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  • Abilon Naves

    29 de fevereiro de 2012

    Parabéns Olivas! Excelente Texto.

    Insubstituível o “cheiro” de um “bom livro”.

    Concordo quando aborda o assunto sobre preservação de documentos e digitalização – a qual também permite traçar um raso e simplista paralelo com a ciência da mecânica do raciocínio matemático e o uso das calculadoras.

    Grande abraço.