Sou uma admiradora da história do cangaço. Parabéns ao escritor João Souza. Vou comprar seus livros.
Maria Bonita ( Maria Gomes de Oliveira), figura entre as mulheres brasileiras de maior destaque do século XX, tem lugar de influência e causa muitas polemicas a respeito de sua vida.
Se viva estaria hoje com 100 anos. Sua vida ao lado do cangaceiro Lampião gerou diversas lendas, histórias mal contadas e distorções que a pesquisa de historiadores atuais vai reescrevendo em novos capítulos.
Nascida em 08 de março de 1911, na fazenda Malhada da Caiçara, no povoado de Paulo Afonso, Bahia, aos 19 anos, então recém separada do marido, foi apresentada por um tio para Lampião (Virgulino Ferreira da Silva) e passou a viver com ele pelos sertões nordestinos e morreu degolada e crivada de balas na Grota dos Angicos no município de Poço Redondo , Sergipe, em 28 de julho de 1938. Na sua trajetória pelo cangaço, virou uma lenda que causava medo na simples menção de seu nome. A fama do bando de Lampião se espalhou por todo o Brasil e levou o governo a oferecer uma grande recompensa na época para que entregasse Lampião e Maria Bonita vivos ou mortos. Um grande aparato policial (Volante) foi criado para enfrentar Lampião e seu bando.
O historiador João de Souza Lima, um apaixonado pelas histórias do sertão nordestino, lançou recentemente a segunda edição de seu livro A trajetória guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço um dos mais fiéis relatos da vida desta personagem histórica e nos concedeu uma entrevista que pode ser lida adiante.
João de Souza Lima é Historiador e Escritor, autor e co-autor em 10 livros sobre o cangaço. membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. Dedicou-se a estudar estes personagens, mora em Paulo Afonso e dedicou grande parte de sua vida a pesquisa de personagens tão polêmicos como os cangaceiros.
A entrevista
MH- Quem é o historiador e escritor João de Souza Lima?
JSL- João de Sousa Lima, nascido em São José do Egito, Pernambuco e radicalizado em Paulo Afonso, Bahia.
Casado, pai de duas filhas, licenciando em História pela Faculdade Sete de Setembro, escritor, autor de 05 livros sobre o cangaço, co-autor de mais 5 livros em parceria com o Dr. Juracy Marques, funcionário público municipal e um apaixonado pelas histórias do sertão nordestino.
hoje ministra palestras em seminários, colégios, faculdades e eventos por todo Brasil.
MH- Quando nasceu seu interesse sobre os sertões e seus personagens?
JSL- Nasceu depois que fui convidado pelo amigo-irmão, professor Edson Barreto, para pesquisarmos a região de Paulo Afonso pois naqueles povoados existiam infinitas histórias e remanescentes da época do cangaço. Depois desse dia, quando travei contato com as pessoas que haviam vivido a saga do cangaço, nunca mais consegui parar de pesquisar e hoje lá se vão 17 anos desde os primeiros contatos.
MH- Sua pesquisa de campo o levou aos locais onde Maria Bonita viveu e morreu. Qual a sua sensação em estar nestes locais e as dificuldades encontradas?
JSL- As dificuldades foram imensas, pra se ter ideia do que foi essa verdadeira epopeia, quando da realização do meu primeiro livro, intitulado “Lampião em Paulo Afonso”, eu rodei 12.000 km em uma moto CG (Honda) 125 cc, durante quatro longos anos, atravessando veredas aparentemente intransponíveis. O Raso da Catarina, esse grandioso bioma que abriga a mais bela fauna e flora das caatingas, foi vasculhado como se tivesse sendo mapeado.
Agora, poder conhecer as pessoas da época, colher a história oral e real, conviver com ex-cangaceiros, coiteiros, soldados volantes, foram momentos marcantes. Com vários deles fiz grandes amizades, me tornei confidente. Muitos ainda estão vivos, mesmo que beirando os 100 anos de vida. Essa foi a parte mais gratificante de tudo.
MH- Sua pesquisa envolveu contatos com antigos personagens da História e testemunhas de muitos dos eventos. A história escrita em livros de História, tem casos muito diferentes entre si?
JSL- Consegui identificar verdadeiros absurdos, porém hoje existem muitos pesquisadores e escritores sérios e que tem desenvolvido trabalhos memoráveis.
Encontramos ainda alguns malucos que tentam incutir mentiras nas cabeças de quem não conhece a história e aos poucos esses falsos historiadores estão sendo levados ao ridículo e ao esquecimento.
MH- Maria Bonita, Esse era o seu nome entre os volantes ou este também era o nome que Lampião a chamava?
JSL- Maria Bonita foi um apelido colocado pela policia, já no finalzinho do cangaço. No bando ela era conhecida como Maria do Capitão, Maria de Lampião ou simplesmente Maria.
MH- Maria Bonita. Uma mulher apaixonada ou uma “cangaceira”?
JSL- Ela foi uma mulher apaixonada e ao mesmo tempo, por ter seguido a vida errante do cangaço, foi uma cangaceira.
MH- Existe algum trabalho genealógico realizado sobre Maria Bonita?
JSL- Eu escrevi a biografia dela, colhendo informações desde sua infância até a morte, foi o primeiro trabalho especifico só sobre sua vida e hoje esse trabalho é uma referência para quem estuda as mulheres e o cangaço, também foi um dos livros que mais me deu prazer em concluir, estou lançando a segunda edição agora, dia 25 de junho de 2011.
MH- E a sua pesquisa pessoal? Será motivo de livro?
JSL – Toda minha pesquisa foi transformada em livros.
os depoimentos e as fotografias colhidas estão guardados em meu acervo particular e podem ser disponibilizados para futuras pesquisas.
MH- Deixe uma consideração sobre o seu livro e sobre Maria Bonita.
JSL- Maria Bonita foi uma mulher que rompeu parâmetros de uma época machista, andou a margem da lei, se apaixonou por Lampião e nas veredas infinitas do sertão viveu sua mais interessante paixão.
MH- Como vê, nossas questões vão de encontro ao gosto de nossos leitores e também na divulgação de seu trabalho.
Caso eu tenha deixado algum tópico aberto e de relevância, por favor cite para podermos concluir.
JSL- Não podemos agradar a todos, ninguém conseguiu até hoje essa proeza.
O cangaço é um tema amado e ao mesmo tempo odiado, só não podemos esquecer que toda criação de sociedade foi fundamentada na violência. Não devemos ter preconceito com nossas histórias sendo elas violentas ou não, devemos transcrevê-las como foram acontecidas, respeitando suas originalidades e ouvindo suas fontes orais reais. Não podemos ser juiz de um povo, de suas memórias, de suas raízes históricas e culturais.
Nossa equipe deseja sucesso no lançamento deste livro e indica aos nossos leitores um dos livros que reflete muito bem a importância de pesquisas sérias e bem documentadas que permitem, mesmo após tantos anos um nova visão sobre fatos e eventos da vida de nossos antepassados.
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João de Sousa Lima
25 de junho de 2011
Grato pela divulgação de nossas histórias nordestinas.