A leoa de Varsóvia

Uma frase muito comum na internet e amplamente divulgada é : Mexe com meus filhos e eu viro uma leoa. No Brasil a leoa vira onça.

Inocente, simples e muito bem idealizada, esta frase sintetiza o sentimento materno em uma de suas mais extremas dedicações.

A proteção.

Já ouvi muitas outras outras, e você também já ouviu.

Muitas delas contem mensagens para os incautos que aproveitam da ingenuidade de uma criança e se esquecem que existe uma mãe a protegê-los.

Conselho de amigo: Jamais mexa com a leoa.

Muitas vezes tive a oportunidade de ver minha mãe em alguns destes momentos leoa e olha que nós filhos não eramos tão crianças assim. Não importa a idade, a Leoa não conhece isso. Para ela, seus filhos sempre serão crianças, jamais crescem.

Elas agem realmente como uma leoa, são extremamente ferozes, tomam a posição de guarda, de defesa e mostram as unhas. E unha de mãe deve doer muito.

Mesmo sem querer, as vezes nos defrontamos com estas leoas e se formos inteligentes, vamos sair correndo antes que as garras se finquem na nossa costa.

Nossa, eu estou querendo falar sobre as mães e acho que estou exagerando. Elas são delicadíssimas, amorosas, eficientes, e amam seus filhos, mas, eu insisto; Não mexa com os seus filhotes.

Hoje, 12 de maio, é aniversário de falecimento de uma destas leoas.

Ela faleceu no dia das mães de 2008 e passou a vida quase esquecida, mas seus atos foram de uma leoa acuada e salvou mais de 2500 vidas de crianças na eminência de serem executadas em campos de concentração nazistas.

Eu falo da Irena Sendler, uma LEOA, ativista dos Direitos Humanos que entre 1939 e 1945 estava em Varsóvia e presenciou os horrores da perseguição nazista aos judeus. É conhecida como “Anjo de Varsóvia” ou Jolanta como também era conhecida no gueto de Varsóvia. Ela, expondo-se ao perigo, tirava as crianças do gueto e as entregava para famílias de benfeitores que as escondiam dos algozes nazistas.

Irena era católica, mas seu sentimento de solidariedade, seu sentimento materno, sua imensa bondade fizeram dela uma “fora da lei”, uma heroína para as famílias que tiveram seus filhos salvos por ela.

Usava de seu cargo como sanitarista para executar fugas sensacionais e usava muitos recursos para isso, inclusive carregando crianças dentro de sacolas ou cestos e colocando sua vida em risco a cada criança salva.

Não divulgava a quem entregava estas crianças, sua lista era memorizada e quando foi presa pelos nazistas, mesmo tento sido barbaramente torturada, tendo seus pés e suas pernas triturados, não revelou nenhum nome. Um momento de Leoa.

Foi condenada a morte e quando esperava a data do fuzilamento, foi resgatada por integrantes do Zegola, uma organização de judeus que agia no gueto.

Temendo pela sua morte, escreveu todos os nomes das crianças e as famílias que as protegiam e escondeu em uma cova no jardim de sua casa. Após o término da II Guerra Mundial, desenterrou e entregou a lista para os responsáveis pelo resgate destas crianças.

Lamentavelmente, muitos pais e mães não sobreviveram, mas suas crianças foram salvas.

Ela, hoje considerada “Justa entre as Nações” pelos judeus, homenageada com a “Ordem da Águia Branca” do Governo Polonês, indicada para o Nobel da Paz  se explicava com as seguintes palavras:

“A razão pela qual resgatei as crianças tem origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionalidade”.

Nós não poderíamos deixar de passar este dia, pela proximidade do Dia das Mães, para prestar nossa homenagem a Jolanta.

E também trazer um reflexão para o dia de amanhã. Uma reflexão sobre você Mãe, o sobre a sua Mãe e sobre todas as mães do mundo que viram Leoas quando alguém ameaça seus filhotes. Um sentimento que poucos percebem.

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