Colonos alemães na América do Sul

Colonos alemães na América do Sul

De tempos em tempos o blog alemão de MyHeritage tem a honra de receber um convidado – o historiador Hans-Peter Geis – que contribui com artigos brilhantes de próprio punho tratando de vários aspectos da História Alemã. Um dos pontos mais importantes da sua pesquisa é a preocupação em retratar o homem alemão comum, aquele que não assinou grandes tratados ou foi responsável por momentos importantes da História da Humanidade, mas aquele cidadão como você e eu, que tem a sua força através da coletividade.

Com isto em mente, Geis trata dos temas da imigração com muito entusiasmo, mostrando em que lugares deste mundo ainda podemos encontrar raízes alemãs, ou os motivos que fizeram com que tantos alemães deixassem o seu país. Desta vez o tema do historiador é a imigração alemã para países da América do Sul. De olho nas comemorações dos 190 anos de imigração alemã no Brasil, considero apropriado tratarmos deste tema também no nosso blog.

Fica aqui a tradução (minha) do texto do historiador.

Boa leitura!

“Nos meus posts anteriores [N.R.: Para ler os posts anteriores do autor, acessar o blog alemão de MyHeritage (textos igualmente neste idioma)] eu já descrevi os movimentos migratórios alemães em direção ao Leste, para a região de Siebenbürgen, para outros países europeus vizinhos, para a Rússia e para os Balcãs e, na última postagem, para os Estados Unidos. Esta é a minha última contribuição. Hoje eu vou contar sobre uma região para a qual muito menos alemães imigraram, do que para os Estados Unidos, estou falando aqui da América do Sul.

Os imigrantes foram para a América do Sul – especialmente Brasil, Argentina e Chile – em lotes, especialmente logo após os períodos de muita fome entre 1816/1817 e 1846/1847. Os enviados daqueles países prometeram muitas coisas aos alemães, mas, quando estes lá chegavam, eles eram praticamente deixados à própria sorte. No Brasil, eles ganharam um pedaço de terra nativa, que eles conseguiram cultivar com muito esforço. No entanto, pouquíssimos novos imigrantes viajaram na sequência, pois logo ficou sendo conhecido na Alemanha, como era penosa a vida do outro lado do Atlântico: solitária, em um país com um idioma estranho, com um clima estranho. Os que lá ficaram estabeleceram-se nas províncias mais ao sul: Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Na Argentina, os alemães não ganharam nem mesmo o pouco de terra que havia sido prometido, eles começaram a trabalhar por lá como artesãos ou comerciantes.

Meu próprio avô imigrou para o Brasil em 1895, após seus negócios fracassarem em Gardelegen (cidade no norte da Alemanha). Para isso ele viajou durante 8 dias através da Alemanha, para se despedir de seus amigos, o que prova que ele realmente estava convencido da idéia de deixar seu país. Depois disso ele partiu de Hamburgo com o navio alemão Arkadia e foi até Desterro, que fica na Ilha de Santa Catarina, no estado de Santa Catarina, bem ao sul do país (Desterro já tinha mudado seu nome para Florianópolis em 1893, mas meu avô não escrevia assim).

Sua viagem durou um mês, o caminho era por vezes tempestuoso e a maioria das pessoas que viajaram  com ele enjoava no navio – mas não meu avô, segundo seu diário. Quando ele finalmente deixou o navio, e se despediu dos companheiros de viagem e tripulação, ele acreditava que aquela seria a despedida derradeira da Alemanha e as lágrimas lhe vieram aos olhos. Ele não teve, porém, um começo difícil em Desterro e rapidamente começou a trabalhar para a Firma Emil Meyer. No seu tempo livre ele frequentava o clube alemão e um  coral alemão.

Mas mesmo assim ele não ficou por lá. Minha mãe dizia que ele não aguentou o calor. Por isso ele retornou à Alemanha, no final de 1897 ou início de 1898. No dia 7 de julho de 1900 ele se casou com minha avó em Hildesheim e no dia 5 de janeiro de 1902 a minha mãe nasceu.

20.000 alemães imigraram da Alemanha e Áustria em direção ao Chile. Estes cultivavam as terras inabitadas ao sul de Valdivia. À frente de um número maior de colonos, nove famílias de Rothenburg an der Fulda chegaram em Valdivia no dia 25 de agosto de 1846, a bordo do veleiro “Catalina”, depois de enfrentarem muitas dificuldades  durante a viagem. Bernard Eunom Philippi, um oficial prussiano da Marinha, bem como conhecido naturalista, que já conhecia a região devido às suas viagens de pesquisa, motivou a todos para a imigração. Até o final do século 5.000 imigrantes de várias regiões da Alemanha e até do Tirol imigraram. Eles trabalhavam em várias profissões, fundaram companhias. A partir de 1852 eles também receberam parcelas de até 100 hectares de terra na região pantanosa do Lago Llanquihue, que foram cultivadas com muito esforço e graças ao auxílio dos índios Mapuche. Eles não se assustavam com os terremotos ou vulcões,  como o Osorno que entrou em erupção em 1790, 1834, 1835 e 1850. A agricultura e trabalhos manuais ainda são as atividades dos descendentes destes imigrantes até hoje.

Lago Llanquihue - Chile

Lago Llanquihue - Chile

Igreja dos colonos alemães em Frutillar

Igreja dos colonos alemães em Frutillar

Museu dos colonos alemães emFrutillar

Museu dos colonos alemães emFrutillar

A partir de 1875, eles também começaram a cultivar mais terra em outras regiões, entre elas Nueva Braunau, o único local que hoje ainda leva um nome alemão. Os costumes por lá me lembram dos costumes de cavaleiros alemães da região do Báltico. A Família Kuschel, originária da Silésia (Schlesien), praticamente reinava sobre a região de sua casa da fazenda (hoje deu lugar a um museu e hotel). Os trabalhadores locais, em  contraste, moravam em casebres modestos nas redondezas. Até mesmo a morte separava os senhores dos serviçais: tanto na igreja quanto no cemitério eles tinham lugares separados. Eu mesmo estive na região em 1999, as fotos acima foram todas tiradas por mim, durante esta visita.

De 1883 a 1886 2.600 colonos suiços, igualmente sem terra, se estabeleceram 300 km ao norte dos colonos alemães, em uma área similar, às margens do Rio Biobio.

Quem se interessar sobre o meu trabalho como historiador, pode encontrar mais relatos no meu livro “Bauer Bürger Arbeitsmann. Geschichte der Menschen deutscher Sprache” (N.R. Título não traduzido para o português: Agricultor, Cidadão, Trabalhador. Histórias das pessoas de língua materna alemã).

O livro está disponível para venda através da Editora Pahl-Rugenstein. O site para consulta é www.bauer-buerger.arbeitsmann.de”

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E você, também tem antepassados alemães? O que você sabe sobre as vidas destes antepassados? Quais foram suas dificuldades na chegada ao Brasil? Adorariamos ouvir suas histórias nos comentários a seguir ou através do email: brasil@myheritage.com

Comentários

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  • Rodrigo Trespach

    11 de fevereiro de 2014

    Uma explanação mais detalhada sobre a Imigração Alemã no Brasil pode ser acessada no meu blog, onde há links para os meus artigos em revistas e também meus livros, além de dados e textos de jornais para downloads:
    Abs, Rodrigo Trespach

  • Joel Guilherme Velten

    27 de fevereiro de 2014

    Muito interessante. Eu conheci aquela igreja luterana em Frutillar. Estive lá em 2011 em um Congresso de Cultura Alemã. Fou m uito bom!
    Joel Guilherme Velten
    Veja o site
    O meu segundo livro será publicado este ano.
    “Os Italemães na Terra dos Botocudos” Histrória da colonização alemã no Espírito Santo desde 1847.

  • Elaine Finholdt Parrella

    19 de agosto de 2014

    Olá,
    Sou Elaine Finholdt Parrella e faço pesquisa genealógica e história da familia.
    Preciso muito de informações sobre os Finholdt’s e Parrella’s.
    Poderia me ajudar com estas informações e sites apropriados p o assunto?
    agradeço desde já,
    Elaine

  • Laci Lindemann Scheinpflug

    18 de maio de 2015

    Faço pesquisa de meus antecendentes Familia Gaertner, Lindemann, Redecker e Kühn Vieram de Leeden e Lotte da Alemanha,gostaria de saber como consigo o nome do navio em que vieram. Agradeço Laci Lindemann Scheinpflug

    • Karen

      19 de maio de 2015

      Oi Laci, você sabe de que porto eles saíram da Alemanha? Há diversos museus da emigração naquele país (como em Bremen e Hamburg) que oferecem listas dos passageiros para pesquisa.

  • Daniella Silva

    25 de maio de 2015

    Olá pessoal estou aqui por intermedio da minha avó Deolinda Demétrio, nascida em Indaial/SC,mas com sobrenome da mãe alemã já falecida Alma Pahl,onde ouvi comentários de que a mesma era filha de politico em Santa Catarina,não achei nada na internet. Minha vó gostaria de saber a real origem da sua familia e eu quero muito ajudá la.O pai da minha avó chamava se Irineu Demétrio, ao qual também não encontrei nada na Internet. Se puderem ajudar.
    Grata
    Daniella

  • Sergio Schutz

    17 de junho de 2015

    Bom dia, tudo muito interessante. Sou um estudioso amador. Nas horas de folga costumo pesquisar origens. Estou com dificuldades de encontrar registros dos navios. Sei que saiu da Antuérpia – Belgica em 1862 – Nome Adam Schutz – Alemão de Veitsrod

  • Joaosinho Munchow

    6 de novembro de 2015

    Joaosinho Munchow

    Bom dia pessoal, estou pesquisando a vinda do meu tris avo
    Joio Munchow é o nome que consta na lista de imigrantes para São lourenço do Sul RS, mas o nome no tumulo é Johann Friedrich Munchow, a data é 1869 qual é o navio, e de onde saiu? Alguém pode me ajudar fico muito grato…

  • João Heinz

    26 de setembro de 2016

    Karen, boa tarde,

    As listas que você comentou, sobre emigrantes da Alemanha, em Bremen e Hamburg, estão disponíveis na internet?

    Obrigado

  • Arlene

    3 de julho de 2019

    Boa tarde. Gostaria se possível da sua ajuda para encontrar alguma informação sobre Gustav Hesse. Sei wue ele veio em navio que ia para Argentina mas em função do navio entrar em quarentena desceu em um porto do Paraná. Ele deve ter vindo entre 1890 e 1905 pois casou aqui em Joinville em 1906. Obrigada.