Nossas Crianças

Nossas Crianças

Como seria o mundo se quem o governasse fosse uma criança?

Ingênuo, puro, mais humano?

Inocente talvez, um pouquinho desarrumado também, mas de uma coisa todos nós teríamos certeza. Seria muito mais divertido.

A visão das crianças do mundo, das coisas que as cercam, dos obstáculos e das dificuldades são totalmente diferentes da visão de um adulto e não importa se a criança é do primeiro mundo ou do terceiro mundo.

Por exemplo, na frase acima, uma criança inevitávelmente iria perguntar onde é o segundo mundo.

Já vi diversos trabalhos magníficos sobre esta visão infantil que para alguns adultos são incomodas mas para outros adultos são como pérolas de lembrança de uma infância rica em criatividade e pureza.

Nós pais, já ouvimos muitas pérolas de nossos filhos, até guardamos em nossas árvores algumas frases que eles, em um momento de criatividade, de dúvida ou de intenso “conhecimento” tentaram explicar um fato, um caso ou tentaram exprimir uma reação.

Hoje, se nossos filhos, que já são adultos, ouvissem de nós as lembranças destas coisas a reação seria de descrença e de dúvidas: — Eu falei isso? Não acredito.

No livro Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças, de Javier Naranjo, editado em 1999 e reeditado em 2013 para a Feira Internacional do Livro de Bogotá, está fazendo o maior sucesso novamente. Nele Naranjo, após experimentar com seus alunos está visão diferenciada, coletou as frases e definições das coisas mais sutis das nossas vidas na visão das crianças, transformou em um dicionário que atualmente está lotando as redes sociais e sendo espalhadas por muitos. O segredo do sucesso é a ingenuidade que nos faz lembrar do nosso tempo de infância, quando, para tudo existia um “Porque” e quando sem a resposta, existia a “conclusão lógica infantil”.

Algumas das frases do Dicionário, se você ler atentamente, não é simplesmente uma frase escrita por uma criança, mas uma lição de vida na interpretação dos fatos cotidianos. Veja algumas:

  • Adulto: Pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma (Andrés Felipe Bedoya, 8 anos)
  • Ancião: É um homem que fica sentado o dia todo (Maryluz Arbeláez, 9 anos)
  • Água: Transparência que se pode tomar (Tatiana Ramírez, 7 anos)
  • Branco: O branco é uma cor que não pinta (Jonathan Ramírez, 11 anos)
  • Camponês: um camponês não tem casa, nem dinheiro. Somente seus filhos (Luis Alberto Ortiz, 8 anos)
  • Céu: De onde sai o dia (Duván Arnulfo Arango, 8 anos)
  • Dinheiro: Coisa de interesse para os outros com a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos (Ana María Noreña, 12 anos)
  • Deus: É o amor com cabelo grande e poderes (Ana Milena Hurtado, 5 anos)
  • Escuridão: É como o frescor da noite (Ana Cristina Henao, 8 anos)
  • Guerra:Gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz (Juan Carlos Mejía, 11 anos)
  • Inveja: Atirar pedras nos amigos (Alejandro Tobón, 7 anos)
  • Igreja: Onde a pessoa vai perdoar Deus (Natalia Bueno, 7 anos)
  • Lua: É o que nos dá a noite (Leidy Johanna García, 8 anos)
  • Mãe: Mãe entende e depois vai dormir (Juan Alzate, 6 anos)
  • Paz: Quando a pessoa se perdoa (Juan Camilo Hurtado, 8 anos)
  • Sexo: É uma pessoa que se beija em cima da outra (Luisa Pates, 8 anos)
  • Solidão: Tristeza que dá na pessoa às vezes (Iván Darío López, 10 anos)
  • Tempo: Coisa que passa para lembrar (Jorge Armando, 8 anos)
  • Universo: Casa das estrelas (Carlos Gómez, 12 anos)
  • Violência: Parte ruim da paz (Sara Martínez, 7 anos)

Você que tem a oportunidade de ainda estar criando seus filhos ou recriando seus netos, faça a experiencia de Javier Naranjo, coloque cada uma destas palavras em cartões e de para a criança explicar e veja os resultados. Mas antes, para descontrair, brinque com elas, beije-as, abrace-as e deixe-as bem confiantes de que você como adulto não irá recriminá-las ao ouvir a definição dita por elas. Lembre-se, do que disse Andrés Felipe Bedoya, de 8 anos:

Adulto é a “pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma”.

Se você já tem alguma pérola de seus filhos ou netos porque não coloca aqui em nossos comentários?

Fonte consultada: BBC Brasil – Reportagem de Arturo Wallace