Gêmeos em dobro

Gêmeos em dobro

Quem tem na família um caso de gêmeos, sabe que tudo é multiplicado por dois, ou três ou mais.

Mais ou menos 500 mamadeiras por mês é muita fécula de milho para tanto mingau e os números  são de deixar qualquer papai ou mamãe quase a beira da loucura. Papinhas, berços, carrinhos, roupinhas, e as terríveis fraldas parecem um pesadelo, mas não são. Ter gêmeos, segundo uma mãe, é “padecer no Paraíso duas vezes”, segundo um pai, “é ir junto”.

Meus filhos caçulas são gêmeos e você pode imaginar a confusão que eu fazia pela madrugada? Dar de mamar ao mesmo filho, ou pior ainda, dar remédio ao outro e sem entender porque um ficava gordinho, mas sempre tinha um resfriadinho e o outro sempre magrinho e com uma saúde de ferro. Algumas medidas de segurança para quem tem filhos gêmeos são essenciais como, por exemplo, nunca, mas nunca mesmo colocar os dois no mesmo berço e com o mesmo pijaminha. É perigoso. Palavra de pai.

Imagine o quanto estas crianças sofreram nas mãos de um pai cansado?

Minha experiência é compartilhada com muitos outros pais e mães que tiveram a felicidade de ter dois filhos que decidiram vir ao mundo em parceria, e nasceram gêmeos.

Principalmente se estes pais são de Cândido Godói, no Rio Grande do Sul, no Brasil, onde a taxa de nascimento de gêmeos é 10 vezes maior que em qualquer outro lugar, isto mesmo, a taxa mundial de nascimento gemelar é de 1% e ali em Cândido Godói é de 10%, repeti a informação de propósito, afinal estamos falando de tudo em dobro.

Os estudiosos ficam ainda mais espantados quando se separam estes gêmeos da população da cidade (sete mil habitantes) e os localiza em um único bairro, distante quatro quilômetros do município, onde de 80 famílias ali moradoras, 38 famílias apresentam a incidência de gêmeos, ou 47,5% da população do bairro de Linha São Pedro.

Desde a década de 60 os índices em Cândido Godói estão cada vez mais crescentes o que já levantou diversas histórias e teorias como, por exemplo, o aparecimento de luzes no céu, médicos nazistas, ovnis e muitas outras “teorias da conspiração” que alimentam o imaginário popular. A teoria do médico nazista rendeu até livro,  muita gente ainda acredita que Joseph Mengele (o anjo da morte) teria se disfarçado de médico veterinário e concretizado a sua insana experiência de se criar uma raça perfeita. Esta teoria sem fundamento tem contrapartidas fundamentadas, já que não existe nenhuma anotação da passagem do médico nazista que morou e morreu no interior de São Paulo e  foi albergado por famílias de simpatizantes sem condições de tocar financeiramente uma experiência deste nível.

Assim, a ciência que só alertou para o assunto na década de 90, e o Departamento de Genética do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, RS, Brasil, comandado por Úrsula Matte (geneticista), explica fazendo a árvore genealógica dos indivíduos deste região, na busca de uma resposta que justifique tão elevado número de nascimento gêmeos. Segundo a pesquisadora, este evento esta associado ao fato de existirem neste grupo de pessoas uma pré disposição para não se perder as possíveis possibilidade de fecundação, ou seja, o índice de aproveitamento da fertilidade das mulheres da região é maior que as demais mulheres da família.

Provavelmente são famílias que quando se mudaram para lá levaram a predisposição genética para um ambiente isolado. A comunidade é pequena e os casamentos acabam acontecendo entre parentes distantes.” Úrsula relata que fenômenos semelhantes foram verificados em cidadezinhas da África e da Índia.’Do ponto de vista genético, isso não é uma coisa rara’.”

Outra teoria cientifica identificada por pesquisa em árvore genealógica é de que indivíduos do principio da cadeia genealógica teriam sido os mesmos que acabaram por transmitir esta característica genética para os seus descendentes, já que o fenômeno, apesar de ter relevância a partir da década de 60 tem acontecimentos anteriores datando 1927 e 1930. Nada o que uma boa pesquisa genealógica não responda.

Em Myheritage, para se colocar um caso de gêmeos, basta que você coloque os gêmeos em ordem de nascimento (este é uma dado constante da certidão de nascimento) e coloque a data de nascimento no perfil cronológico, basta também descrever no campo “comentário” alguma ocorrência importante, já que estes nascimento são diferentes dos demais de sua árvore e é muito interessante que se coloque o maior número de informações para os futuros pesquisadores.

Com exceção dos moradores de Cândido Godói, que inclusive estão vendo cada vez menos casos de gêmeos,  e os comprovados casos genéticos, a maioria das árvores de Myheritage apresenta normalidade em casos de gêmeos e esta taxa deve estar entre 1% (um por cento) da população.

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